domingo, 10 de março de 2013

E que o Senhor proteja! por Paula Santana


E QUE O SENHOR PROTEJA!


" Noventa por cento de mim estão lá em casa com meus filhos. Aqui só os 10 por cento restantes.”
O desabafo de minha manicure me emocionou profundamente. Em suas palavras, enxerguei uma multidão. Para que possa trabalhar, sustentar a família dignamente, precisa deixar os filhos sozinhos em casa. Confessou, com vergonha, que comete este tipo de “crime” com frequência desde que as crianças tinham seis, sete anos. Cheia de culpas e com o coração apertado, toda manhã, ao sair, faz algumas recomendações, proíbe o uso do fogão, deixa as marmitas prontas na geladeira, bate a porta e entrega nas mãos do Criador o desenrolar de toda a situação.
E que o Senhor proteja!
A politicagem que impera neste país assassinou brutalmente o projeto de Darcy Ribeiro. Junto com ele um pedaço de cada mulher morreu também, ao perder o direito de manter os filhos em segurança durante o horário comercial. E não vou nem discutir controle de natalidade, cotas e a tal da inclusão social, porque excluíram sem dó nem piedade o melhor dos investimentos sociais de que o Brasil já ouviu falar: os Centros Integrados de Educação Pública, os populares CIEPs. Nossas autoridades entenderam que o melhor seria delegar exclusivamente ao Criador o futuro de gerações.
E que o Senhor proteja!
Ter filhos no mundo moderno, tanto nas classes mais ricas quanto nas mais pobres, é sinônimo de estresse. Enquanto o instinto feminino deseja concretizar a maternidade, a realidade aconselha justamente o contrário. Carreira não combina com criança. Pelo menos não aqui no Brasil. Soube que em Londres é bem diferente. Sem falar que lá eles tem a supernanny. Bom, mas tanto faz, minha manicure não pretende se mudar. Muito menos eu. Ela pensa em abandonar a profissão que escolheu para virar costureira, quituteira ou qualquer outra coisa que possa realizar em casa. Sabe aquela história? Fazer do limão uma limonada? Pois é. Não aguenta mais o cansaço mental, o desgaste físico e emocional que só a dupla jornada proporciona com propriedade. Não suporta mais delegar os melhores anos da vida de seus filhos ao acaso. Correr o risco de perde-los para o Crack. Percebem como é selvagem a realidade feminina? Não defendo o retrocesso, claro que não, mas tenho que concordar com minha manicure: É insano colocar filhos no mundo para a sorte criar.
E que o Senhor proteja!
Paula Santana

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